Amor patológico: como uma pessoa se torna doente de amor
Dependência de amor pode ser uma patologia, com sintomas típicos da adição química.
Amar demais não é só um meme de internet ou uma brincadeira sobre paixões avassaladoras. O amor pode ser uma patologia e provocar reações no corpo que exigem tratamento direcionado e atenção para que não cause sofrimento.
O amor patológico, ou “love addiction” é um transtorno de dependência emocional intensa e pode ser comparado a quadros de dependência de álcool e drogas e neste caso, a pessoa torna-se dependente de seu parceiro.
Entenda melhor sobre dependência do amor, os sintomas e como é possível tratar esse amor patológico.
Dependência de amor: como acontece
A comparação da sensação do amor com drogas não é rara de ser feita – ainda que de modo jocoso. Porém, ela não está errada. O estado de euforia despertado pelo amor é muito semelhante ao uso de substâncias viciantes.
Um estudo realizado na década de 1980, por cientistas do New York State Psychiatric Institute, constatou que o amor excessivo pode provocar um estado de euforia no Sistema Nervoso Central similar ao induzido por uma grande quantidade de anfetamina. Segundo os pesquisadores, o amor produziria sua própria substância intoxicante: a feniletilamina, algo que poderia explicar a dependência.
O amor, em seus estágios iniciais, age no corpo de forma similar ao uso experimental da cocaína e outros estimulantes. Uma das substâncias liberadas pelo uso de cocaína é a dopamina que, por sinal, está relacionada à paixão amorosa. Altas doses de dopamina produzem outras sensações associadas à paixão, como aumento de energia, hiperatividade, falta de sono, tremor, respiração acelerada, coração pulsante, além de ser responsável pelo êxtase, que é sentido pelos apaixonados como um êxtase amoroso. Soma-se a isso o efeito de aumentar a persistência: quando a recompensa é postergada, a dopamina aumenta a energia do cérebro para que esse tenha uma maior atenção e leva o amante a lutar mais e mais para conseguir a reciprocidade do amado.
Por outro lado, a dopamina traz efeitos negativos ligados à dependência e esses aspectos podem incluir a ‘dependência do amado’, como num comportamento aditivo. Elevados níveis de dopamina produzem uma atenção concentrada num objeto, bem como uma motivação e comportamento direcionado a um fim. Então, a dependência do amor ocorre, dessa forma, pela mesma lógica que o organismo se torna dependente de outras substâncias químicas. Principalmente quando há algum sintoma psíquico (depressão ou ansiedade, por exemplo) que traz angústia, para se ‘livrar’ dele, a pessoa faz uso da substância. Porém, o sintoma volta e ela faz uso novamente e assim vai. Por exemplo: alguém que está deprimido e se sente melhor ao usar cocaína, ao passar o efeito e voltarem os sintomas, acaba precisando usar mais cocaína.
Amor como transtorno obsessivo-compulsivo
Pessoas que vivem esse amor problemático experimentam sintomas parecidos com os encontrados em pessoas que sofrem de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Uma alteração de comportamento que faz com que a pessoa tenha pensamentos persistentes de medo e ansiedade. Para aliviar o mal-estar, ela costuma realizar tarefas ou gestos repetitivos, como se desdobrar em cuidados dirigidos à pessoa amada.
Outro ponto é o medo de perder a pessoa amada que torna o amor uma patologia. Em termos psicológicos, a essência dessa patologia parece não ser amor e sim medo de estar só, de não ter valor, de não merecer amor, de ser abandonado. Quem sofre do amor patológico convive com o medo diário de ser rejeitado ou de perder o companheiro. A pessoa se desgasta emocionalmente, perde sua autenticidade, seu próprio jeito de ser e de gostar, até chegar a um momento em que ela própria percebe sua descaracterização e despersonalização como pessoa.
Sintomas da dependência de amor
O amor patológico apresenta sintomas que envolvem o comportamento da pessoa com o sujeito amado, seu cotidiano, vida social e quadros de abstinência (emocional).
- Abstinência (emocional) na ausência do parceiro: a pessoa pode sofrer de insônia, alterações de apetite, irritação e tensão quando o parceiro está fisicamente ou emocionalmente distante;
- A pessoa se ocupa do parceiro mais do que gostaria: costuma negligenciar atividades diárias e o trabalho;
- Medo intenso e constante de sofrer rejeição ou de perder o companheiro;
- Frustração ao controlar o impulso de cuidar do parceiro não funciona: mesmo que a pessoa tenha consciência de seu sofrimento intenso e tente controlar seus comportamentos, sente-se impotente em relação às suas emoções e atos;
- Dedicação total ao companheiro, com a sensação de que seus cuidados e gentilezas nunca são suficientes para suprir as necessidades do outro;
- Impulso irresistível de agradar o tempo todo, praticamente abrindo mão de si mesmo;
- Insistência em manter o relacionamento mesmo que seja insatisfatório ou abusivo;
- Dedicação excessiva em controlar as atividades do parceiro, com quadros de desconfiança, ciúmes excessivos, vigilância (telefonemas, e-mails, redes sociais), perseguição
- Possibilidade de agressão física;
- Abandono de atividades antes valorizadas e afastamento da família e dos amigos.
Amor saudável x amor patológico
Há maneiras de diferenciar o amor patológico do amor saudável. Enquanto o amor saudável se caracteriza pelo comportamento de cuidar do parceiro com controle e duração limitada, tendo o desenvolvimento e a realização pessoal preservados, no amor patológico há falta de controle e de liberdade de escolha sobre essas condutas.
O componente central do amor patológico é a caracterização do comportamento repetitivo e sem controle de prestar cuidados e atenção ao objeto de amor com a intenção (nem sempre revelada) de receber o seu afeto e evitar sentimentos negativos. Para a avaliação diagnóstica do amor patológico é importante, também, constatarmos que essa atitude excessiva é mantida pelo indivíduo mesmo após concretas evidências de que está sendo prejudicial para a sua vida e/ou para a vida de seus familiares.
Como é um relacionamento com dependência de amor
Quando uma pessoa desenvolve um quadro de amor patológico existe a possibilidade de que seus relacionamentos amorosos carreguem esse tipo de padrão estabelecido. Como são questões estruturais, como personalidade, autoestima, história de vida, se a pessoa não buscar tratamento tende a repetir esses mesmos padrões em todos seus relacionamentos.
Pessoas vulneráveis ao amor patológico
Normalmente o amor patológico atinge pessoas que são vulneráveis psicologicamente, com baixas autoestima e autoconfiança, crises de raiva, privação de afeto, estresse emocional e baixa tolerância à
rejeição. São pessoas, também, que lidam com medos da solidão, de temas sobre merecimento e abandono.
Da mesma forma, alguns fatores familiares podem estar associados, como abuso de substâncias e histórico de negligência (física e/ou emocional)na infância. Essas pessoas vivenciaram relações conflituosas em seu núcleo familiar desde a infância; lares desajustados, em que conviveram e sofreram com situações de violência doméstica, pais distantes, dependentes químicos ou foram vítimas de abuso sexual infantil.
Em muitos casos, por terem pais que necessitavam de cuidados, essas pessoas assumiram responsabilidades quando crianças temendo o abandono e, na fase adulta, tendem a repetir esse padrão, buscando inconscientemente parceiros instáveis e, muitas vezes, dependentes (para destinar seus cuidados).
Diagnóstico e tratamento
Não existe um sintoma chave para o amor patológico que ajude em seu diagnóstico. Como outras dependências, o quadro começa a trazer prejuízos nas áreas da vida da pessoa, como os sintomas descritos acima, sem que ela se dê conta.
O tratamento, dessa forma, costuma ser procurado apenas quando o relacionamento acaba, quando já não é mais possível aceitar ou aguentar a forte angústia pelo rompimento.
Para tratar o amor patológico, a psicoterapia é a forma mais indicada. No início, o tratamento é bem difícil, pois como em casos de dependência a substâncias, a pessoa não tem crítica em relação a sua situação e acha que não precisa de suporte ou acompanhamento. Também indicamos grupos de apoio, como o Mulheres que Amam Demais Anônimas (MADA). Já o tratamento psiquiátrico é necessário apenas em casos de sintomas associados e patologias de base, como depressão, ansiedade, entre outros.
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