Pense na palavra ‘negligência’. Agora vamos retomar o que representa a expressão ‘negligência parental ou familiar’. Muito provavelmente você se lembrará de situações que já viu onde uma criança ou adolescente sofre praticamente um abandono por parte de seus cuidadores (pais ou não), sofrendo e sentindo-se solitária por não receber o amor, a proteção e a segurança na qual tem direito. Estou certa?!
Bem, esse significado acima da negligência familiar está correto, contudo, o completo oposto disso, também pode ser considerado um ato de negligenciar filhos e/ou dependentes! Aí você me diria…”Como assim?! Ficou louca?! E eu respondo: Não! E você entenderá o por quê logo a seguir!
Pense bem: ao superproteger e cercar um filho/filha de extremo cuidado e atenção, será que esse(a) cuidador(a) não estaria, ao invés de poupar e proteger, apenas limitando e impedindo essa criança ou adolescente de experienciar as situações da vida e aprender com elas?!
Ao querer moldar demais a personalidade e as vontades e necessidades de um ser humano em desenvolvimento, acaba-se enfrentando um limiar quase que invisível, uma linha tênue, entre o que seria um acompanhamento saudável do crescimento desse ser junto a seus cuidadores, para uma vivência extremamente incapacitadora.
Ao querer amparar e proteger demais suas crias, pais e mães, entre demais cuidadores, acabam sufocando seu desenvolvimento natural, no qual é comum (e se espera inclusive) sentir frustração, arrependimento, tristeza, ter decepções etc, pois são com estas experiências que mais aprendemos, assim como, é através dos erros que superamos certas dificuldades e amadurecemos para novas e desconhecidas situações.
Ao negligenciar tais vivências para a vida de um filho(a), seu preparo para o enfrentamento da vida e do que ocorrerá no mundo e na geração no qual ele(a) vive, estará muito comprometido e defasado, se comparado àqueles que sentiram toda sorte de sentimentos negativos, porém, sabiam que em suas famílias encontrariam abrigo, acolhimento, proteção, respeito e informação.
O carinho e a educação são fundamentais, todavia, é necessário permitir, possibilitar, deixar com que pessoas que estão se desenvolvendo, passem e enfrentem determinados problemas, dificuldades etc, afim de registrarem o que realmente é saudável para elas, ou se aquilo é algo que se deve, a partir daquele momento, ser evitado ou feito de outra maneira. Em outras palavras, quando estamos crescendo, precisamos experienciar as coisas a partir de nossa ótica em determinados momentos, entendendo as causas e consequências (ou impactos) de nossas escolhas e atitudes por nós mesmos.
Você provavelmente já deve ter ouvido de alguma pessoa (provavelmente alguém mais velho), aquela velha máxima: “nossas experiências de nada adiantam para o outro”. Podemos aconselhar, explicar e isso até evita muitos problemas e constrangimentos, no entanto, na maior parte das vezes, o ser humano sente-se impelido a experimentar certas coisas, mesmo que já tenha sido alertado a respeito daquilo.
Aquela famosa curiosidade e interesse em fazermos as coisas à nossa maneira, originalmente, sendo autênticos e espontâneos. Nesses nossos rompantes de ousadia em que arriscamos fazer diferente do que nos foi orientado, muitas vezes chegamos em conclusões diferentes dos demais e que podem, até mesmo, nos ser uma experiência diferente positiva e interessante, por que não dizer?
Por exemplo: você jamais permitira que seus filhos fossem a um parque de diversão pois considera perigoso. No entanto chega um dia em que sua filha diz que vai estudar na casa da amiga e uma essa mentira para ir a este parque e acaba sentindo-se muito bem e descobrindo que de fato gosta muito das sensações que experimentou. E olha que esse é um exemplo simples.
Muitos adolescentes acabam criando essa estratégias muito prejudicial de mentir aos pais, pois não encontram no diálogo com eles a possibilidade e flexibilidade que seria saudável para poderem experienciar coisas novas e diferentes das que seus pais gostam e/ou aprovam. O que mais tarde pode ocasionar em situações catastróficas, pois muitos filhos(as) mentem e escondem dos pais desde as mais pequenas coisas até grandes acontecimentos, como uma viagem, um abuso, ou seja, a negligência ocorre, justamente por não sentirem que podem contar com essas pessoas, por seriam apenas julgados e castigados.
Conheci certa vez uma família que praticamente aprisionava a própria filha, que passou toda sua adolescência em casa, sem poder viajar com amigos, dentre outras coisas. Sair à noite era artigo de luxo. Ela não precisou (nem pôde) fazer absolutamente nada sozinha, nem mesmo ir ao poupa tempo retirar o próprio RG ou CPF, por exemplo. Nunca aprendeu a “se virar” e se organizar com suas necessidades, pois as mesmas eram completamente realizadas e atendidas por outras pessoas.
E em outras famílias, mesmo em 2017, ainda percebo a grande necessidade de “moldar” os filhos as suas próprias maneiras, enfrentando grande medo deles serem diferentes. Chegando ao ponto de quererem que seus filhos pratiquem os esportes que eles (pais) consideram melhor e mais adequado, além de insistirem na pior prática que um educador pode cometer: compará-los a outras crianças e adolescentes, menosprezando ou diminuindo suas capacidades, habilidades e personalidade.
Tais filhos, mais tarde, precisarão com certeza ressignificar tantos anos de falta de aceitação em uma terapia. Pessoas que enfrentam lares e educações dessa forma, crescem extremamente inseguras, sem autoconfiança, ou com autoconfiança e autoestima superdimensionadas, muitas vezes são mimados e não conseguem desenvolver empatia e consideração pela condição e sentimentos das outras pessoas, e acabam sofrendo, tornando-se agressivas ou deprimidas, além de revoltadas com suas próprias vidas, pois tiveram de suprimir e negar seus impulsos, gostos, escolhas, por toda a vida.
Muitos também desenvolvem transtornos relacionados à ansiedade, visto que estão constantemente preocupados e estressados por buscarem atender expectativas de outras pessoas que não de si mesmos, e estar a altura do que outros exigem é praticamente impossível. Além disso são pessoas que seguem se descaracterizando e desconstruindo suas próprias identidades, pois precisam se encaixar em padrões alheios. Isso pode causar sérios comprometimentos além de transtornos de personalidade e comportamento.
Segundo artigo do site “Psicologias do Brasil”: A superproteção se define como a atenção excessiva dada aos filhos. Pode parecer apenas mais um rótulo, e até uma forma de pôr em dúvida o modo como educamos nossos filhos. Eles também colocam que: “O mais curioso desse tipo de comportamento é que os pais e mães estão muito absortos em cada aspecto da vida de seus filhos: escola, esportes, hobbies,alimentação, amizades…Estão “super presentes” e pensam que, assim, atuam como os melhores pais do mundo, e que sua criança é a mais correta do mundo. No entanto, o equilíbrio emocional e pessoal das crianças está muito longe de refletir a felicidade.”
Pais e cuidadores devem sim estar ao lado dos filhos e protegê-los, porém, devem permitir que seus filhos aprendam com os próprios erros e optem por seus caminhos, sabendo que terão o amor e o respeito desses pais os acompanhando nessas escolhas.
Espero que este artigo tenha valido a pena para você ou talvez para alguém que você conhece! Não se esqueça de deixar seu comentário! Sinta-se à vontade caso queira compartilhar esse conteúdo em suas redes sociais!
Forte abraço!
Autora: Natália Ceará – Psicóloga, Palestrante & Criadora do curso Autêntica-Mente, cujo intuito é que você performe com autenticidade na vida e na carreira. Estruturado a partir de mais de 13 anos de experiência (como profissional autônoma e celetista) e que utiliza ferramentas e técnicas de autoconhecimento e inteligência emocional para garantir resultados sólidos e mensuráveis.
Contatos: (19) 98456-5566 (Whatsapp disponível de segunda á sexta das 09h às 19h) ou pelo e-mail nataliacceara@gmail.com
Mídias:
Instagram: @natceara
Linkedin: https://www.linkedin.com/in/nat%C3%A1lia-cear%C3%A1-a3419330/