O Luto é um processo natural que ocorre sempre que há uma perda significativa na vida de uma pessoa. Essa perda pode ser de natureza diversa, como por exemplo, um ente querido, um relacionamento, um emprego, uma modificação corporal, uma alteração importante das condições de vida, etc.
É um processo individual vivido e sentido. Mesmo que haja um grupo ou família ou mais de uma pessoa passando pela mesma perda ao mesmo tempo, cada indivíduo expressará seus sentimentos, assim como reagirá com mais ou menos intensidade conforme sua particularidade (choro, raiva, tristeza, questionamentos, interferências na vida social ou emocional) para lidar com perdas diversas ou com aquela perda específica. O momento de vida que esteja passando também terá influencia sobre o luto a ser vivenciado.
O processo de luto não precisa ser marcado necessariamente por uma desestrutura emocional, como por choros compulsivos, crises de ansiedade e etc. O luto é particular e por vezes pode ser vivenciado em silêncio, com a rotina de vida mantida, como trabalho, estudo, amigos, passeios… E isso não significa que a pessoa não esteja carregando e elaborando o sofrimento desta perda. Não há um estereótipo a seguir e nem deve-se esperar por isso.
O luto não é doença ou síndrome, nem mesmo sinônimo de vida desestruturada e sua evolução saudável visa a transferência, na esfera emocional, da vinculação em relação a um objecto perdido para memórias amenas das expressões dessa mesma vinculação. Este processo é transitório, podendo ser conceptualizado de acordo com quatro fases:
– Fase de Entorpecimento: período em que a pessoa poderá se sentir como se estivesse desligada da realidade, atordoada, desamparada, imobilizada ou perdida. Nesta fase ocorre uma negação da perda que poderá surgir como uma forma de defesa contra um evento de difícil aceitação;
– Fase de Anseio e Protesto: período de emoções fortes, sofrimento psicológico e agitação física. Frequente manifestação de sentimentos de raiva dirigidos tanto a si próprio como a pessoas significativas;
– Fase de Desespero: fase igualmente complexa que surge frequentemente associada a momentos de apatia e depressão, sendo que o processo de supressão destas reações é muito lento. Por vezes verifica-se um afastamento das pessoas e actividades, falta de interesse, assim como dificuldades de concentração na execução de tarefas rotineiras. Os sintomas somáticos, tais como, insónias, perda de peso e de apetite, são recorrentes;
– Fase da Recuperação e Restituição: nesta fase deverá emergir uma nova identidade que permite ao indivíduo abandonar a ideia de recuperar aquilo que perdeu e adaptar-se ao significado que essa perda tem na sua vida. Verifica-se, então, o retorno da independência e da iniciativa. Apesar de a instabilidade ainda se encontrar presente nos relacionamentos sociais, nesta fase poderá haver investimentos em novas amizades e o reatar de laços antigos.
Existem situações em que o processo de luto não segue a evolução acima descrita, podendo ocorrer fixação numa das etapas e, consequentemente, a não resolução do luto.
Nestas circunstâncias, o luto permanece não resolvido ao longo do tempo, durante vários anos, por vezes, para o resto da vida da pessoa, interferindo no estado emocional da pessoa e impactando significativamente a sua vida. Nestes casos, estamos perante uma situação de Luto Patológico.
O que podemos fazer para processar o luto?
- Aceitar e compreender que o luto é um processo natural: que leva o seu tempo, sem tentar apressá-lo. Poder enfrentar a perda e atravessá-la de uma forma adaptativa nos gera maior confiança, desenvolvendo novos aspectos e mecanismos.
- Não resistir à mudança: acontece uma transformação frente à perda de pessoas e papéis que ocupam um lugar central em nossas vidas. O melhor é abraçar essas mudanças, aproveitando as oportunidades que se apresentam para o crescimento, ao mesmo tempo em que reconhecemos os aspectos nos quais nos sentimos empobrecidos.
- Expressar nossas emoções e sentimentos: comunicá-las, não reprimi-las e, se for necessário, procurar ajuda de um profissional.
- Estar rodeado de vida: ativar nossas relações sociais, aprender algo novo ou fazer atividade física por exemplo, de acordo com a nossa idade e condição de saúde.
- Procurar novos sentidos para a vida: criar e desenvolver projetos.
Quando procurar ajuda?
A dor, o sofrimento e os transtornos que acompanham o luto não têm nada de “anormal”, mas existem certos sintomas que indicam que deveríamos consultar um profissional, ainda que a decisão final seja de cada um.
Segundo, Robert A. Neimeyer, você deve considerar seriamente a ideia de falar com alguém sobre o seu luto se apresentar algum dos seguintes sintomas:
– Intensos sentimentos de culpa,
– Pensamentos de suicídio,
– Desespero exacerbado,
– Inquietude ou depressão prolongada,
– Sintomas físicos (perda substancial de peso, sensação de ter uma faca cravada no peito, etc.)
– Ira descontrolada,
– Dificuldades contínuas de funcionamento,
– Abuso de substâncias.
Ainda que qualquer um destes sintomas possa ser característico de um processo normal de luto, a sua continuidade por tempo prolongado deve ser motivo de preocupação e atenção para consultar um profissional.
A elaboração do luto significa se colocar em contato com o vazio deixado pela perda do que não existe mais, valorizar a sua importância e suportar o sofrimento e a frustração que comporta a sua ausência. (Jorge Bucay)
Espero que essa leitura tenha lhe trazido, de alguma maneira, um novo pensamento, conhecimento ou despertado seu interesse em entender melhor o luto e como lidar com ele. Se lhe ajudou, pode ser que ajude mais pessoas, então compartilhe-o com seus amigos e familiares! Grande abraço!
Referências:
– http://www.clinicadesaudementaldoporto.pt/002.aspx?dqa=0:0:0:25:0:0:-1:0:0&ct=3
– http://www.minhavida.com.br/saude/temas/luto
– https://amenteemaravilhosa.com.br/experiencia-do-luto